14 agosto 2012

Na Tua

Calma. Espera. Deixa eu organizar o que quero dizer. Assim. Aquele domingo, lembra? Fui buscar pão e geleia de morango, e pedi emprestado seu MP3 player para distrair meu caminho. Talvez através da sua seleção eu soubesse melhor quem você é. Sei que eu comentei algo idiota sobre uma suposta vontade de me enforcar após ouvir sua listagem e você, meio brabo, grosso e arredio, disse “se você está com vontade de comer uma torta de morangos deve procurar uma confeitaria, e não um açougue” e blá-blá-blá. Tudo bem, não está mais lá quem falou.Só que eu estou aqui. Querendo saber mais coisas remotamente pessoais sobre você sem que uma expressão de pavor cruze seu rosto. Então, com quantos anos você perdeu a virgindade? Já foi a algum show do Whitesnake? Você teve sarampo quando criança? Você foi criança um dia, não foi? Como vai sua mãe? Você me quer apenas como sua garota de final de semana? Eu quero mais.Me diz alguma coisa, vai. Me fala tudo aquilo que eu ando louca pra ouvir da sua boca. Sussurra, então. Ou me ensina a receptar telepatia, essa língua que só os inteligentes e evoluídos e incógnitos e brancas-nuvens conseguem decifrar. Porque eu já estourei minha cota de intuição. Diz que me adora, que gosta de mim, que sente saudades minhas e uma vontade insana de me ver em plena quarta-feira. Sei que não muda nada, mas eu preciso ouvir. Ou isso, ou eu pego minha bicicleta e dou o fora daqui. Agora. Sabe, não está dando muito certo, às vezes eu me sinto meio o Dick Vigarista gritando para o Mutley fazer alguma coisa. E você só olha meu desespero patético e fica rindo. E então? Como vai ser?Desisto. Eu acho, às vezes, que seria mais produtivo perseguir pombos em praça pública. Bem, eu só queria dizer que, apesar desse seu jeito todo iceberg de ser, eu te acho um rapaz incrível. Você é o melhor ser humano entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. Sei que eu inexplicavelmente estou na tua e você sabe disso. Não dá bola, assim que meu ataque trevoso de angústia cessar, eu sei, não vou me importar nem um pouco se você ficar na tua, se você não ligar de me aturar falando pelos cotovelos, deitada do teu lado.
Gabito Nunes

0 comentários: