22 agosto 2012

Quero ser pequeno

Eu descobri que não era mais criança no dia em que meu pai veio me visitar e eu estava triste. Pedi a ele: "Pai, posso sentar no seu colo?" e já fui sentando. Nunca esqueci o olhar dele. Parecia ter visto a pior aberração do mundo, a mais assustadora de todas as criaturas, ali, ao vivo, à frente dele e sentado em seu colo. Minha mãe disse "ele está carente". Acho que nada machuca mais do que alguém ter que explicar a quem você pede carinho que você precisa de atenção. Não culpo meu pai. Ele nunca teve um. E com a idade que eu tinha acho que ele esperava que o filho triste o convidasse para tomar uma cerveja no bar da esquina e não pedisse um cafuné sentado em seu colo.

Corri para o meu quarto e peguei meu urso azul de pelúcia. A pelúcia não era azul, mas ele era. Sempre gostei de azul. Eu olhei para o meu urso e ele não me reconheceu. Ele pertencia à criança que todas as noites o desejava "boa noite" e ficava torcendo para ele ganhar vida enquanto fingia que dormia. Ele era daquela criança, não meu. Foi então que eu percebi que havia uma lacuna, entre quem eu achava que era e quem eu havia me tornado. Brigadeiro não podia mais ser meu prato favorito, e nem "Vou de táxi" a canção da minha vida e eu teria que achar uma atriz melhor do que a Priscila da TV Colosso.

Tive que crescer sem ninguém perguntar se eu queria e muito menos me ensinar como seria. Nunca, nada me doeu tanto quanto crescer. Trocaram minhas figurinhas de chicletes por contas a pagar, meu celular de borracha que tocava músicas foi substituído por vozes que me lembram dos meus compromissos, meu relógio de plástico que sequer marcava as horas me mostra a todo momento que o tempo passou. Não posso mais nem ir aonde eu quero. Antes, me bastava um barquinho de papel, o tanque cheio d'água e alguns minutos de silêncio para eu dar a volta ao mundo. Hoje, me cobram R$2,10 para ir de um bairro ao outro.

A verdade é que eu nunca quis crescer e com isso aprendi a brincar de viver. E eu brinco tanto que nunca canso. Estou sempre com um sorriso no rosto, pronto para o que der e vier. É que eu guardei dentro de mim a criança, e dou vida a ela sempre que preciso. Quando está tudo ruim eu fecho os olhos, fico em silêncio, me escondo na minha mente, coloro meu dever de casa e imagino que tudo vai ficar bem. Pego meus lápis de cor e coloro o mundo, levo alegria a quem chora e arranco risada de quem queria chorar. Infantil? Não! Só a maturidade lhe permiti ser menor do que você é. E não há jeito melhor de crescer.

Ontem, eu olhei no espelho e vi a barba em meu rosto. Lembrei da primeira vez em que eu fiz a barba, aos sete anos e minha mãe me disse: "Você não tem barba, menino". Ontem, eu corri na sala sorrindo ao chorar e gritei: "Mãe, mãe. Eu tenho barba". Ela não entendeu. Mas eu vi, os cabelos brancos que hoje estão na cabeça dela, os cabelos que não mais estão na cabeça do meu pai e descobri que agora não posso mais correr para a cama deles quando eu tiver com medo. Vou ter que guardar um espaço na minha cama para quando eles tiverem medo.

Estava terminando este texto, quando minha mãe me gritou: "Menino, você vai se atrasar para o trabalho" e me entregou a marmita. Antes era a merendeira e eu ia para a escola... Pensando bem, não é a gente que cresce. É o mundo que muda de tamanho e esquece de nos avisar.

Alto

Eu não tenho medo de voar. Eu tenho medo de estar fechada num lugar e de ter escolhido estar fechada nesse lugar. Tenho medo porque meus pés sentem o chão mas ele é falso. Meus pés sempre me obrigam a sentir a verdade e eu sou obrigada a dizer a eles que aquele chão não dura e nem é de terra. Tenho medo do absurdo que é sorrir e dizer "guaraná normal e sem gelo, grata" enquanto se quer dizer "que merda é essa de estar voando se não sou a porra dum passarinho?". Tenho medo porque quando acabar estarei em outro lugar. Agora, se eu pudesse escolher o maior de todos os medos, eu diria "a chance disso cair agora é muito pequena". Estou sobrevoando, sem inteligência, a água profunda que aprendi a chamar de casa mas também de intervalo. A verdadeira angústia de voar é estar acima da nossa vida. Voar é tornar nossa rotina banal. Estou voando há dias, de primeira classe, com vista para o desenho de um país que não sei o nome. Ao lado de uma pessoa que, até que enfim, não é mais uma barrinha de cereal.
Tati Bernardi

14 agosto 2012

Na Tua

Calma. Espera. Deixa eu organizar o que quero dizer. Assim. Aquele domingo, lembra? Fui buscar pão e geleia de morango, e pedi emprestado seu MP3 player para distrair meu caminho. Talvez através da sua seleção eu soubesse melhor quem você é. Sei que eu comentei algo idiota sobre uma suposta vontade de me enforcar após ouvir sua listagem e você, meio brabo, grosso e arredio, disse “se você está com vontade de comer uma torta de morangos deve procurar uma confeitaria, e não um açougue” e blá-blá-blá. Tudo bem, não está mais lá quem falou.Só que eu estou aqui. Querendo saber mais coisas remotamente pessoais sobre você sem que uma expressão de pavor cruze seu rosto. Então, com quantos anos você perdeu a virgindade? Já foi a algum show do Whitesnake? Você teve sarampo quando criança? Você foi criança um dia, não foi? Como vai sua mãe? Você me quer apenas como sua garota de final de semana? Eu quero mais.Me diz alguma coisa, vai. Me fala tudo aquilo que eu ando louca pra ouvir da sua boca. Sussurra, então. Ou me ensina a receptar telepatia, essa língua que só os inteligentes e evoluídos e incógnitos e brancas-nuvens conseguem decifrar. Porque eu já estourei minha cota de intuição. Diz que me adora, que gosta de mim, que sente saudades minhas e uma vontade insana de me ver em plena quarta-feira. Sei que não muda nada, mas eu preciso ouvir. Ou isso, ou eu pego minha bicicleta e dou o fora daqui. Agora. Sabe, não está dando muito certo, às vezes eu me sinto meio o Dick Vigarista gritando para o Mutley fazer alguma coisa. E você só olha meu desespero patético e fica rindo. E então? Como vai ser?Desisto. Eu acho, às vezes, que seria mais produtivo perseguir pombos em praça pública. Bem, eu só queria dizer que, apesar desse seu jeito todo iceberg de ser, eu te acho um rapaz incrível. Você é o melhor ser humano entre os piores que já conheci. Ou o pior entre os melhores. Não sei. Sei que eu inexplicavelmente estou na tua e você sabe disso. Não dá bola, assim que meu ataque trevoso de angústia cessar, eu sei, não vou me importar nem um pouco se você ficar na tua, se você não ligar de me aturar falando pelos cotovelos, deitada do teu lado.
Gabito Nunes

13 agosto 2012

Lembrar não dói

Eu queria te contar que agora não dói mais. Só que agora não importa tanto o que você vai pensar sobre isso. Queria que você soubesse que já vi nossos filmes milhares de vezes e nem chorei. Ok, chorei. Mas pelo filme, e não por você. Queria que você soubesse que tirei a poeira das nossas músicas, e que as ouço quase todos os dias. Porque elas me faziam mais falta do que você fez. Os nossos lugares não são mais nossos. Eu já voltei lá com outras pessoas, e escrevi lá outras histórias… Eu estou aprendendo a tocar violão. E a primeira música que toquei foi aquela música que era uma espécie de hino pra nós dois. Ela é tão linda… E sim, ela continua sendo muito nossa e lembrando demais você. Mas ainda sim, não dói. Você não pergunta essas coisas, mas sei que gostaria de saber. Porque te conheço. E isso não mudou. Do mesmo jeito que adivinhei as coisas ruins que você aprontaria, eu sei as coisas boas que ficaram aí em você e te fazem lembrar de mim. Porque a vida segue. Mas o que foi bonito fica com toda a força. Mesmo que a gente tente apagar com outras coisas bonitas ou leves, certos momentos nem o tempo apaga. E a gente lembra. E já não dói mais. Mas dá saudade. Uma saudade que faz os olhos brilharem por alguns segundos e um sorriso escapar volta e meia, quando a cabeça insiste em trazer a tona, o que o coração vive tentando deixar pra trás.

Caio F Abreu

12 agosto 2012

Meu herói

Ter um pai é ter o mundo inteiro, e saber que é também o mundo inteiro de alguém. É ouvir um "Juízo filha, volte cedo" que soa mais como um "Eu te amo muito". Não troco ouvir essas palavras por nada nesse mundo. É ter pra onde correr, é ter um abraço pra se encolher quando se tem medo do escuro. É mais que proteção, é uma base de amor único. Sabe do que eu to falando? De amor verdadeiro, amor de pai pra filho. Ah que saudades eu tenho de dormir ao teu lado e te acordar de madrugada pedindo a chupeta, de brincar de cavalinho, de correr de você pela casa. Eu cresci, mas por dentro continuo sendo a sua filhinha de sempre. Meu melhor amigo é meu pai. Sei que não é pra ele que conto a maioria das coisas e também não conto sobre os amores e ficantes na balada passada, mas eu sei que posso contar com ele pra qualquer coisa e que ele estará comigo sempre, sem dúvidas, me amando e apoiando. É, eu tenho um super herói em casa, que não usa capas e não precisa de super poderes pra se tornar um verdadeiro campeão. Ele só existe e me ama incondicionalmente!

11 agosto 2012

Os seus sonhos são os meus sonhos

Quando você imagina dias repletos de carinho e noites repletas de paixão, quando você sonha com a harmonia e a felicidade plenas, saiba que eu compartilho do seu pensamento, pois os seus sonhos são os meus melhores sonhos, e o meu maior desejo é lhe ver sempre bem e feliz!Eu amo você. Talvez até fosse desnecessário lhe dizer isto, pois acredito que este meu sentimento se evidencia em cada um dos meus gestos e em cada palavra que eu pronuncio me referindo a
você. Por isso é que eu me atrevo a dizer que os seus sonhos são nossos e, portanto, em dias não muito distantes se transformarão em realidade.O amor tem este fantástico poder de transformar em fato as idéias nobres e generosas. O amor é milagroso, pois agrega virtudes e faz o mundo e as pessoas melhores. O amor é sagrado, pois nos aproxima do belo e do perfeito.E é este amor, fantástico, milagroso e sagrado o que eu sinto por você. É este amor que me faz acreditar, sem sombra de dúvidas, que os seus sonhos são meu também.Sou feliz por ter você ao meu lado. Sou feliz por ainda conseguir acreditar em sonhos neste mundo tão descrente de tudo. Sou feliz porque tenho a sorte de contar com a sua companhia, pois é ela que me leva a crer o dia seguinte sempre será melhor do que o atual ou o anterior.Sonhe, meu amor. Sonhe bastante. Eu estarei sempre ao seu lado, esteja você dormindo ou mesmo, e principalmente, ao despertar.

O que você fez com o amor

Um dia quis te ver, hoje já fujo de você. A gente terminou de um jeito que até a vida dúvida. Sim, você roubou todo afeto e confiança que eu tinha, e sei lá, afogou num poço. Quem sabe um dia você entregue o que era meu pra outra menina ingênua e boba de apaixonada como eu fui. Isso mesmo, fui. Mudei por mim, mudei por você. Confesso que eu ficava perdida com essas nossas idas e voltas, mas agora você se foi, ou melhor, mandei você ir. A gente era feito um pro outro. Você tinha exatamente todo aquele jeitão de homem que eu gosto. Mas cade você agora? Eu era sua, daquele jeitinho sapeca que só te pertencia. E você, foi inteiramente meu? Eu acreditei que era pra sempre, estava apaixonada, sentia isso com você e acreditei. Agora quem acredita é você que poderia ter sido pra sempre. Mas cade o humor, cade a graça? Aonde foi parar aquela coisa gostosa de te amar? Pra onde você levou, o que você fez com o meu amor? Mas uma coisa eu aprendi: Aprendi a gostar de mim, a me ter devolta pro meus braços, a me querer como nunca me quis. Olha, me perdi e me encontrei, que ironia!

Inspirado no cheiro da sua mão

Se a gente juntar com a pá migalhas e farelos, o pó e os cacos que sobraram de nós dois, acho que faz um inteiro. Será que não? E aí? Que tal? Vamos? Como soa dividir comigo essa existência idiotamente ridícula, morna, real, estúpida, bagaceira e imbecil? Vamos fazer diferente, como ninguém mais sabe fazer, só nós? Diz que vamos, vai.Não? É tudo que preciso pra começar a te conquistar. Diz que não com os olhos cheios de esperança. Com duzentos "nãos" eu construo um castelo, uma roda gigante, uma cabaninha de lençol na sala, um altar, um amor, um sim bem grande. Com um sim entre você e eu, te roubo inteira e metade da felicidade do mundo. Diga que não, ponha uma meta no meu colo, tipo num processo de seleção feminina só pra eu provar que sou o cara.Isso, faz assim. Se faz de labirinto quando eu me oferecer em linha reta. Diz que metade de mim, a parte amigo, tá bom, só pra me empurrar inteiro coração adentro, goela abaixo, com toda a calma do mundo. Isso, faz assim. Dá voltas e voltas e voltas na chave da tua emoção só pra eu me exibir que posso te desarmar, desarrumar sua vida e seus cabelos. Embora eu não te ame ainda, mesmo o amor não existindo, diga não e me encoraje a pôr tudo à prova.Finge não me querer, disfarce o brilho no olhar, esconda o sorriso atrás dos cabelos, ganhe torcicolo de tanto cuidar o outro lado, mostre o cofrinho se abaixando quando eu passar rasando, fique o tempo todo pensando no jeito infalível de ganhar o Oscar de melhor "tô nem aí". Me ache chato se eu te procurar, me ache o homem da sua vida se eu sumir, me veja feio do teu lado, me veja lindo do lado das outras. Diga trocentas vezes pro espelho na sua bolsa que sou o cara mais idiota, mais engraçado, mais fajuto, mais encantador que você fingiu não gostar.Perfeito assim. Fosse sem esses enigmas, sem esses rodeios, sem esses movimentos, sem esses contrastes eu a rejeitaria como todas as outras. Vem assim como uma onda que não se congela pra eu pegar, como uma música do Djavan. Mas alerto já que estarei esperando com os pés e o desejo de te ter pra mim descalços, esperando você se desfazer, perder energia e parar na areia, nos meus braços, no meu sofá.Bolei um plano pra trazer você pra mim, todo inspirado no cheiro da sua mão. É mais ou menos assim: você finge me repelir como fosse eu um ex-presidiário estuprador, bagaceiro e ressentido, e eu chego arrombando sua porta, suas pernas, sua alma. Aí você se dá conta que para voar é preciso tirar o peso dos ombros, se desanda, e diz pra mim, no ouvido, com um fio de voz e outro de esperança de que seja tudo real, que isso é o maior erro do ano, que não imaginava existir tanta culpa no céu, que as pessoas ficaram mais bacanas depois que encasquetei em te querer. Tudo sorrindo mais do que seu rosto aguenta.E devolvo, puxando com os dentes seu lóbulo, que nossa história foi escrita torta de propósito pra gente se cruzar, tudo enquanto eu babo sobre teus encantos, enquanto eu faço o sexo mais manso e mais intenso e mais irreversível e mais gostoso e mais carinhoso e mais sem camisinha e mais duradouro da sua vida, tanto que você perde seus orgasmos por birra, contrai a pélvis pra eu não gozar de pirraça, de tanta vontade de nunca mais me deixar sair de onde eu nunca deveria ter entrado.Depois, com pequenos beijinhos e mordiscadas virando e desvirando seu corpo, virando e revirando seus olhos, convenço que os maiores amores se acertam nos erros, quando a loucura e a entrega vencem a resistência e o medo de alguma forma. Começo num beijo no canto da boca, aqueles que cabe a você decidir se acaba, ou prossegue, tá? Então, vamos? Pega na minha mão, entra no meu carro, sobe na minha garupa. Te mostro o quanto dá pra amar no caminho.

Gabito Nunes

Aceita ser feliz

Gosto de pensar assim: se a gente faz o que manda o coração, lá na frente, tudo se explica. Por isso, faço a minha sorte. Sou fiel ao que sinto. Aceito feliz quem eu sou. Não acho graça em quem não acha graça. Acho chato quem não se contradiz. Às vezes desejo mal. Sou humana. Sou quase normal. Não ligo se gostarem de mim em partes. Mas desejo que eu me aceite por inteiro. Não sou perfeita, não sou previsível. Sou uma louca. Admiro grandes qualidades. Mas gosto mesmo dos pequenos defeitos. São eles que nos fazem grande. Que nos fazem fortes. Que nos fazem acordar. Acho bonito quem tem orgulho de ser gente. Porque não é nada fácil, eu sei. Por isso continuo princesa. Continuo guerreira. Continuo na lua. Continuo na luta. No meio do caos que anda o mundo, aceitar é ser feliz.
Fernanda Mello

10 agosto 2012

Plano B

(...)O Plano B é hoje. É agora.Eu não sei se há vida nas próximas duas horas ou daqui 25 anos. Não sei se darei as mãos em frente ao mar sentindo que nada me falta, se minha preocupação será com o horário de pegar as crianças na escola, se comprarei cremes para as rugas e shampoo para cabelos grisalhos. Mas neste segundo eu posso afirmar com as minhas maiores convicções: o sangue passeia pelo meu corpo, o ar entra e sai dos meu pulmões, os segundos do relógio brigam com as pilhas fracas e passam correndo. Eu não posso ignorar. Eu não posso sentar e assinar papéis cheios de poeira enquanto o sol colore a pele de outras pessoas na praia. Não posso ver um avião decolar da janela de um escritório. Eu preciso estar no avião e ver tudo de cima. Hoje eu digo que estou viva e nada me impede de viver. Em todos os planos.

Verônica H.